Reflexões geradas
Comentário de Júlia Martins
Maria João,
Seleccionei a tua reflexão para dar cumprimento a esta segunda fase da nossa tarefa porque considero que apontas aspectos significativos, bastante pertinentes que nos abrem portas a outras questões, conduzindo-nos a outras reflexões.
Optei por destacar algumas das tuas afirmações, ousando tecer alguns comentários ou acrescentando mais algumas questões.
· “ (…) há escolas onde o PTE não chegou” – é uma verdade! Que critérios? Mas também o inverso, escolas que receberam o PTE e mantém o material bem guardado nos caixotes, outros instalaram todo o material, mas ninguém dá uso… há de tudo um pouco. Apesar do input de recursos materiais, estará o PTE a cumprir os seus objectivos?
No relatório para a UNESCO da comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI – Educação, um tesouro a descobrir (1996) – coordenado por Jacques Delors há uma reflexão sobre o impacto das novas tecnologias na sociedade e na educação alertando-nos para a criação de novos ambientes educacionais, comunicacionais e de acesso à informação. Em 2010, já não podemos falar em “novas tecnologias”, a grande maioria dos nossos alunos têm acesso à informação, mas será que os “novos ambientes educacionais” estão criados? Nas escolas onde o PTE está a funcionar haverá uma maior interactividade nas aprendizagens? E estão disponibilizados conteúdos e /ou serviços? Onde estamos a falhar?
Penso que as afirmações (excertos) seguintes apontam-nos algumas razões das lacunas.
· “(…) vontade de mudar dos professores bibliotecários (…)” e “ (…)Professores acomodados, apenas preocupados em continuar a trabalhar de acordo com os mesmos moldes com que se trabalha há anos dificilmente embarcarão nesta aventura.” – Em pleno século XXI, num mundo onde a informação alcança uma velocidade atroz, não devíamos ter professores acomodados, pelo contrário. Vontade, motivação, entusiasmo deveriam ser conceitos presentes na actuação dos nossos professores. Os professores bibliotecários deveriam ser líderes e enquanto tal, deveriam perspectivar o futuro, ter visão. Contudo, um número significativo de professores bibliotecários, estão presos a rotinas e à execução de actividades avulsas e desprovidas de significado. Felizmente, temos algumas boas gestões, mas sem liderança, e gestões sem liderança sobrevivem, vão colhendo algumas pequenas vitórias, mas sem que um radioso destino seja alcançado.
· “ (…) gosto por investigar e ver como se usa esta multiplicidade de ferramentas colocadas à nossa disposição” - A este propósito recordo um artigo publicado em 2002, intitulado "Está preparado el professorado para trabajar en las bibliotecas?, António Viñao, onde se destaca a importância da formação de docentes, não só dos que estão ligados às bibliotecas escolares mas também de todos os outros docentes da escola. Para o autor, esta questão é fundamental porque não se pode utilizar o que se desconhece (a biblioteca) e muito menos incentivar os outros (os alunos) a utilizar aquilo que não se conhece.
E, ainda não podemos esquecer que o uso de mails, de newesletter, do blog e de redes sociais começam a ser essenciais na eficácia da difusão da informação. O professor bibliotecário enquanto inovador, proactivo e líder deve assumir-se como um conhecedor e utilizador. E quem insiste em ser resistente?
Perante este cenário como poderemos nós desejar cumprir a grande missão das bibliotecas “ (…) fazer leitores competentes na sociedade e no tempo em que se encontram.” , e criar “ “(…) comunidades virtuais” . Penso que ainda temos um longo caminho a fazer… mas o primeiro passo para mudar o rumo deste caminho está na vontade, numa nova atitude dos professores, em particular dos professores particulares. Apesar do caminho ser árduo, temos de acreditar na mudança e mostrar as (poucas!) boas práticas que existem por aí.
Continuação de boas reflexões.
Júlia Martins
Comentário de Margarida Costa
Olá Maria João
Escolhi logo o teu contributo para comentar pois me pareceu que, apesar de ter enveredado por outra proposta, muitos aspectos da tua reflexão intersectam a minha própria contribuição para este debate.
Talvez pelo teu "regresso" à escola, conseguiste centrar a tua reflexão no real e não na teoria. Baseado na literatura, é fácil enunciar Que passos poderiam dar as nossas bibliotecas se aproximarem de um modelo de biblioteca 2.0...
Mas como a questão se refere às nossas bibliotecas e não às bibliotecas do "país das maravilhas" parece-me que conseguiste, com a incisão que te caracteriza, colocar o "dedo na ferida", começando precisamente pela questão da pseudo-democratização no acesso aos equipamentos informáticos em número e funcionalidade adequados. Este é, de facto, um aspecto preocupante até porque nos faz partir para a discussão com base no equívoco de que o acesso à tecnologia se massificou.
Outra questão essencial, e na qual baseei a minha argumentação no fórum 2, é a questão pedagógica propriamente dita. Não temos uma massa crítica de professores, nem mesmo de professores bibliotecários, disponíveis e decididos a apostar na inovação, na mudança, na formação e na auto-formação. Concordo (apenas em parte) com o adjectivo aventureiro como característica do professor bibliotecário 2.0. Aventureiro, na medida de incerto e arriscado, uma vez que a emergência e a rapidez de evolução de conceitos, atitudes e fenómenos envolve decerto algum risco. Mas mais que aventureiro, qualquer professor do séc.XXI tem que ser capaz de inovar, renovar, reinventar o seu papel na relação pedagógica com os seus alunos e com os seus colegas para, como dizes, fazer leitores (cidadãos, acrescentaria eu) competentes na sociedade e no tempo em que se encontram.
Concordo quando dizes que é igualmente fundamental que se desvie o foco dos recursos físicos existentes na biblioteca e do serviço cara a cara com o utilizador para se pensar em disponibilização on-line e interacção constante com os alunos e professores num mundo virtual – mas aí, lamento o pessimismo, mas parece-me que voltámos ao "país das maravilhas". Para esse passo, são precisos recurso humanos qualificados pois, por enquanto, o virtual ainda tem um rosto por trás... E aí, estamos outra vez, a recuar...
Continuação de boas aventuras (à escala das nossas escolas, somos verdadeiros Indiana Jones!)
Margarida
PS.Porque mais do tecnologia, este fórum convoca-nos para reflectir Educação, recordo um video que provavelmente a maioria já conhece!
Comentário de Maria José Alves
Maria João
Juro que não é perseguição, mas quando vi o teu trabalho imprimi-o logo para comentar. Atrasei-me em colocar o comentário na plataforma e... mais alguém pensou como eu.
Achei interessante a tua reflexão e a tua opinião sobre esta temática e coicide em muitos pontos com a minha opinião.
A saber:
- "dotar as BE com equipamentos informáticos em número e funcionalidade adequados" - Acrescentaria que o maior problema encontra-se nas BE do 1º ciclo onde o material informático é da responsabilidade das CM.
- "O PTE não chegou a algumas escolas" - De facto no meu território ainda há escolas onde o PTE é uma "miragem".
- "A vontade de mudança dos PB" - ainda há muitos que resistem às novas tecnologias. Como se muda esta atitude? Eu não sei.
- Desviar o foco dos recursos físicos existentes na BE e do serviço cara a cara com o utilizador para pensar em disponibilização online..." - Com PB resistentes à mudança? Quem incentiva os alunos? Não tenho a certeza que sozinhos e sem orientação consigam lá chegar.
Contudo, há BE que utilizam algumas ferramentas da web 2.0, penso é que poderiam ser utilizadas de outra maneira. Concordo contigo, muitos blogs, por exemplo, servem simplesmente para mostrar o que foi feito em cada BE. A sua actualização também deixa muito a desejar. Os Blogs das minhas BE bastam ser consultados uma vez por mês (deve ser para não me darem trabalho).
No entanto, e apesar da crise, estou confiante que algo vai mudar e que muito lentamente iremos ter BE 2.0.
Se não fosse esta a minha esperança não estaria a fazer formação.
Maria José Alves
Comentário de João Proença (Formador)
Olá Maria João:
Gostei do teu texto que mostra já uma aturada reflexão sobre a matéria:
Não posso deixar de concordar com as tuas ideias mas não com as prioridades... Eu escreveria assim:
É igualmente fundamental que se desvie o foco dos recursos físicos existentes na biblioteca e do serviço cara a cara com o utilizador para se pensar em disponibilização on-line e interacção constante com os alunos e professores num mundo virtual – no fundo é necessário fundar novas comunidades educativas, mantendo as velhas comunidades físicas já existentes na escola, mas criando também comunidades virtuais, em que as necessidades dos nossos alunos são ponto fulcral da nossa actividade. - Este é o grande desafio dos CIBES/GRBE - fazer os professores Bibliotecários terem vontade de mudar ou não é? bom trabalho João
- é a vontade de mudar dos professores bibliotecários – essa é a palavra chave. Professores acomodados, apenas preocupados em continuar a trabalhar de acordo com os mesmos moldes com que se trabalha há anos dificilmente embarcarão nesta aventura.
Também é necessário gosto por investigar e ver como se usa esta multiplicidade de ferramentas colocadas à nossa disposição – só conhecendo minimamente as ferramentas os professores bibliotecários são capazes de continuamente avaliar o seu potencial para as colocarem ao serviço da velha e ancestral missão da biblioteca – fazer leitores competentes na sociedade e no tempo em que se encontram.
como nota final:
Paixão Pinto
Olá Maria João
Diz o povo, com sabedoria, que lanterna que vai à frente alumia duas vezes, isto para dizer que como me atrasei a ler todos os comentários e a refletir sobre eles, já não "alumio" ninguém, já não irei dizer nada de novo sobre a tua reflexão. No entanto, não quis deixar de te dizer que partilho da tua opinião sobre o facto de ao termos regressado à escola, permitir ter a "dupla visão" de CIBE e de PB. Este viver, quase heteronímico, fez com que compreende-se melhor algumas angústias de PB mais empenhados, mais comprometidos com o que é lhes pedido actualmente.
Quanto às sugestões de utilização de ferramentas, concordo contigo, mas não vou repetir o que já foi dito pelas outras colegas.