Comentários feitos

 

Comentário à Reflexão de Raquel Ramos

 

Olá Raquel,

Como é sabido, voltei este ano à escola e esse facto ajuda-me a recolocar todas as questões pois quando temos o concreto do dia-a-dia a perseguir-nos, tudo adquire um novo matiz. Apeteceu-me comentar a tua reflexão, pois concordando contigo em vários aspectos, não posso deixar de encontrar também alguns constrangimentos. Por isso vou partir das tuas palavras para, a propósito delas, partilhar os meus pontos de chegada, que me levam, devo confessá-lo, a alguma apreensão:

 

 Numa instituição educativa como a escola, onde a construção do conhecimento é a base de toda a actuação (…)

 Infelizmente, tal como a Regina já chamou a atenção, creio que ainda estamos muito longe de ter como base de toda a actuação da escola a construção do conhecimento – vejo os docentes ainda muito preocupados com o tempo e a gestão do programa, considerando que este se “dá” recorrendo a métodos transmissivos e remetendo metodologias activas de aprendizagem para o contexto do trabalho de casa e extra-escola, com os resultados perniciosos que daí advêm: alunos que encaram a informação acriticamente, limitando-se a copiá-la sem que daí advenha qualquer construção de conhecimento.

Penso que os primeiros passos estão já a ser dados no que se refere à pedagogia com recurso à tecnologia: muitos professores pedem aos alunos que se inscrevam no moodle, enviam-lhes mensagens… porém isto não chega para passarmos da pedagogia com recurso às TIC para a pedagogia 2.0, pois a questão da construção colaborativa do conhecimento fica de fora na maior parte das vezes.

Claro que concordo contigo quando dizes que a Biblioteca Escolar, como estrutura de apoio às mudanças educativas que se operam, não pode ficar indiferente à nova realidade de utilizadores que serve: jovens, considerados “nativos digitais”, de acordo com Prensky, que não encaram a tecnologia como tecnologia, apenas como recursos naturais no seu dia-a-dia.

Efectivamente tenho diariamente na biblioteca jovens que me vêm perguntar “Hoje há net?”, demonstrando claramente que esta é uma razão fulcral para a sua presença nesse espaço. Parece-me contudo que é necessário termos consciência de que os nossos alunos vêm sobretudo para jogar, para verem os seus e-mails, para entrarem em redes sociais…. Mas… muitas vezes essa frequência da internet não tem a qualidade que desejaríamos, mesmo quando a fomentamos. Se temos, por exemplo, um blog onde esperamos a interacção – a reflexão sobre livros, um exercício de imaginação sobre as capas das obras apresentadas, um comentário às opiniões expressas pelos colegas… aguardamos muitas vezes em vão que os alunos adiram com entusiasmo e participem no trabalho de reflexão que lhes propomos, excepto se isso acontecer em período de aula. E por isso tão importante é para nós, professores bibliotecários, conseguirmos atrair os nossos colegas para este tipo de metodologias de trabalho, o que me leva directamente para as tuas palavras, com as quais concordo inteiramente:

Sem uma cultura de trabalho colaborativo, em que diferentes estruturas da escola unem esforços para obter os mesmos fins, torna-se difícil operar a mudança. É, portanto, necessário que as estruturas superiores e intermédias dêem exemplos de práticas de trabalho colaborativo para, dessa forma, se criarem novas formas de trabalhar propícias à introdução de uma cultura de mudança.

 

Gostaria sobretudo de salientar os exemplos de práticas de trabalho colaborativo – quando os professores bibliotecários mostram o que querem dizer quando falam nesta pedagogia 2.0, obtêm resultados muito mais facilmente do que se se limitarem a apregoar a bondade de conceitos que dominam (medianamente), mas a que a maioria dos professores não atribui sentido. Julgo por isso que se os professores bibliotecários começarem a propor aos docentes actividades que recorram às ferramentas da Web 2.0, mostrando efectivamente o que se pode fazer com elas e os benefícios que daí podem advir, será bastante mais fácil tornarem-se os tais agentes potenciadores da mudança de que de falas e contribuírem para criar a tal visão comum do que pretendem com a instituição.

Com estes exemplos práticos, conseguirão despertar os colegas para as novas metodologias e depois poderão ajudá-los a saberem mais sobre o assunto, a potenciá-las. Gostava também de chamar a atenção para a necessidade de passarem esta mensagem de forma muito concisa, quase como se usassem uma qualquer ferramenta que não permite mais que 140 caracteres: os professores têm hoje em dia o seu tempo muito ocupado e preparar grandes e prolongadas acções de formação será, creio, contraproducente, porque acabarão por optar por não se inscrever… Mostrar o potencial das ferramentas e a seguir ocupar uma hora (não mais) a explicar como fazer, à medida que vai sendo necessário para os docentes, parece-me mais útil do que grandes prelecções conceptuais.

Considero mesmo que o que deixei (deixámos?) registado atrás é mais importante para conduzir à mudança, para conseguirmos que efectivamente as nossas escolas acompanhem os sinais dos tempos servindo os nativos digitais da mesma forma que no passado serviram os seu pais e avós, do que aquilo que dizes abaixo:

É essencial que a escola, nos seus documentos estruturantes, defina uma política educativa que vise o desenvolvimento de competências essenciais ao aluno do século XXI e que se prendem com as várias literacias (da informação, multimédia, digital, visual). Esta tomada de atitude passa pela inclusão na sua missão e objectivos de uma nova forma de estar perante o acto desafiante que é ensinar e educar e inclui, na estratégia de operacionalização, o papel da Biblioteca Escolar.

 

Quando cheguei à escola no ano passado pensava como tu, que era necessária a presença nos documentos estruturantes da escola, e por isso me integrei de imediato em dois grupos de trabalho do Conselho Pedagógico: Projecto Educativo do Agrupamento e Projecto Curricular de Agrupamento. Esta minha experiência fez-me recordar na prática que nada muda por decreto, ainda que esse decreto seja produzido ali bem perto. Claro que não deixei do pensar que é fundamental termos registada nos documentos orientadores uam filosofia da educação que vise preparar de facto os nossos nativos digitais para o mundo actual, mas hoje parece-me que é o passo dois e não o passo um. O primeiro passo é conseguirmos efectivamente a mudança, conseguirmos alterar práticas enraizadas e conceitos esquecidos no tempo… quando o conseguirmos, será fácil mudar os documentos orientadores da escola – antes disso, por muito que lá esteja inscrita a mudança, apenas assistiremos a mais do mesmo.

Bons comentários,

Maria João

 

Comentário à reflexão de Isabel Mendinhos

 

Olá Isabel,

Foi com grande prazer que li o teu texto e julgo que colocas o dedo numa ferida muito dolorosa quando dizes:

Em segundo lugar, e não menos importante, a meu ver, assegurar que o recurso às novas ferramentas não se faça apenas para sossegar a consciência. Assim já não estamos desactualizados. Quem visitar os nossos espaços na Internet verá que não perdemos o pé. Mas... como é que os nossos utilizadores usam esses recursos? Que tipo de interacções se estabelecem? Será que os alunos aprendem com essas interacções?

 

Em primeiro lugar, e porque estamos “em família”, tenho que confessar que tenho visto por aí trabalho de bibliotecas que me deixa perfeitamente roxa de inveja pelo recurso a tantas e tão variadas ferramentas da Web… eu, que luto há um ano por levantar trabalho nessa área e pouco fiz, confesso. Porém penso que, nos inúmeros trabalhos que temos visto divulgados, nomeadamente na lista RBE, nem sempre as questões que colocas atrás foram tidas em conta pelos professores bibliotecários. “Aqui temos o blog da biblioteca x”, “a biblioteca y já está no facebook”, “sigam o nosso twiter” – vejam como somos tão modernos. Mas e metodologias que usamos diariamente na biblioteca e com os nossos colegas docentes,, parceiros da nossa actividade lectiva – têm efectivamente subjacente como teoria do conhecimento o construtivismo (ou o conectivismo de Siemens) ou pelo contrário estas ferramentas são usadas para fazer igual, embora com um aspecto diferente? Aí reside o cerne da pedagogia 2.0 – as ferramentas podem ajudar a construir, mas sozinhas não constroem. Apenas professores bibliotecários conscientes do que é a Web 2.0 e do potencial que tem para o ensino-aprendizagem estão aptos a lidar com a tecnologia sem se tornarem presas dessa mesma tecnologia e mesmo esses, precisam continuamente seguir o lema: como é eu usei a tecnologia hoje para que os meus alunos saibam mais, saibam melhor, consigam mais, dominem melhor, sejam melhores? O que fiz, ajuda-os? Envolve-os?

  

Boas reflexões

Maria João

 

 Comentário à reflexão de Paixão Pinto

 

Olá Paixão,

Tenho respondido a esta questão, criando dois catálogos - o catálogo dos documentos tangíveis da biblioteca - onde apenas incluo os documentos que efectivamente tenho disponíveis e aquilo a que chamo o catálogo virtual - feito em diigo dos tais documentos que não são nossos tangívelmente, mas que acabam por sê-lo de acordo com este novo conceito de pzartilha que a web nos tem possibilitado...

Será uma via?

Continuação de boas reflexões.